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20 de Abril de 2024
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    Servidores do TRT concluem curso de Língua Brasileira de Sinais

    Trinta e cinco servidores do TRT da 15ª receberam certificado de conclusão do curso de Língua Brasileira de Sinais (Líbras), ministrado pelo professor Maurício José Gut. As duas turmas formadas, uma em Araçatuba e outra em Campinas, concluíram o curso, respectivamente, no dia 17 de junho e em 1º de julho.

    Em Araçatuba, foram cinco alunos, sendo um da própria cidade, dois de Bauru, um de São José do Rio Preto e um de Presidente Prudente.

    Em Campinas, 30 servidores concluíram o curso, sendo quatro de Ribeirão Preto, dois de São José dos Campos, um de Sorocaba e 23 da própria Campinas (três que atuam no Fórum Trabalhista, sete da Sede Administrativa e 13 da Sede Judicial).

    A solenidade de diplomação, no dia 1º de julho, foi realizada no auditório do primeiro andar do edifício-sede da Corte e teve a participação do juiz auxiliar da Presidência do Tribunal, Edison dos Santos Pelegrini, e do diretor-geral de Coordenação Administrativa, Evandro Luiz Michelon.

    O curso de Língua Brasileira de Sinais oferecido aos servidores do Tribunal atende à Resolução nº 64/2010 do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT), que dispõe sobre a necessidade de capacitação de até 5% do total de servidores do quadro efetivo dos tribunais para atendimento a pessoas surdas ou com deficiência auditiva. A cada dois anos, os servidores terão a oportunidade de participar de uma reciclagem.

    A comunicação em um mundo silencioso

    Nos três meses de duração do curso, os 35 servidores do TRT das Circunscrições de Araçatuba e Campinas descobriram muito mais que uma técnica de comunicação. Ao tatearem as primeiras palavras mudas na Líbras, uma nova realidade revelou a cada um deles um mundo que, até então, permanecia silencioso, à parte. Parodiando Carlos Drummond de Andrade, os estudantes de Líbras do TRT buscaram aprender a recitar os versos do poema Palavra, que diz: “Já não quero dicionários consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode inventar”.

    Para Virgínia Abrantkoski Borges, servidora da 3ª Vara do Trabalho (VT) de Araçatuba, fazer o curso “foi extremamente gratificante”. Sua irmã mais velha, durante uns quatro anos, sofreu com um problema de audição que a impedia de ouvir qualquer som. “Foi um tempo sofrido de silêncio na família”, revela Virgínia, que de pronto aceitou a fazer o primeiro curso de Líbras oferecido pelo TRT da 15ª. Sua irmã só conseguiu recuperar a audição depois de um implante coclear, feito na Unicamp. “Mesmo assim, ela ouve sons metalizados e até hoje se emociona muito ao falar do tempo em que não podia ouvir”, conta a servidora.

    Logo depois da terceira aula, ainda com pouco avanço na língua de sinais, Virgínia viveu uma experiência no Fórum Trabalhista de Araçatuba, a qual, segundo ela, a marcou de modo “impactante”. Um rapaz de uns 20 anos, totalmente surdo, estava no Serviço de Distribuição dos Feitos, impaciente e constrangido porque não conseguia se fazer entender. Chamada por alguns colegas, Virgínia o atendeu. Nem ela, nem ele, sabiam muito bem usar a língua de sinais, e mesmo assim a servidora conseguiu orientá-lo a respeito dos documentos necessários de que precisava no seu processo. Para Virgínia, porém, o momento que mais a marcou, durante a aprendizagem da língua de sinais, foi quando conseguiu, junto com a irmã, fazer a oração do “Pai Nosso” em Líbras. No dia 17 de junho, dia da entrega dos certificados da turma de Araçatuba, Virgínia levou ao Fórum Trabalhista de Araçatuba um deficiente auditivo que contou a própria vida em Líbras aos alunos. “A interação foi total”, lembrou a servidora, que pretende continuar praticando Líbras em um grupo de sua cidade.

    Fernanda Lucas Bessa, servidora da 2ª VT de Jundiaí, disse que “sempre teve interesse em aprender Líbras”. Em sua infância, ela teve um vizinho surdo com quem se comunicava de modo intuitivo. Com a Língua Brasileira de Sinais, porém, Fernanda, que está apenas há um ano e meio no serviço público, estima que garante, pelo menos, “o mínimo do atendimento”. A servidora atendeu, no balcão da VT, uma senhora totalmente surda. “Ela não tinha nenhum processo ali, mas insistia em falar com a diretora. Servi de intérprete, e descobrimos que ela tinha problemas com a família”, conta Fernanda, emocionada em poder ajudar. “Quem não conhece a Líbras, acaba não vendo essas pessoas. Mas elas precisam ser vistas.” Fernanda disse ainda que, depois que começou a fazer o curso, passou a ver que “essas pessoas existiam mais perto do que ela imaginava”.

    No Fórum Trabalhista de Campinas, a agente de segurança Simone Filomena Rezende de Souza Beray, nos seus 24 anos de trabalho na Justiça do Trabalho, pouco precisou da Líbras. “Foram raras as vezes em que precisei ajudar alguém com deficiência auditiva.” Porém, depois que começou a fazer o curso de Líbras, Simone já atendeu três pessoas, e de uma só vez. O grupo de duas mulheres e um homem, todos completamente surdos, chegaram ao Fórum para uma audiência na 7ª VT. Uma das jovens, parte no processo, foi recepcionada por Simone, que, praticando a Líbras, conseguiu se comunicar com ela. “Valeu muito a pena. Ela sabia mais do que eu e conseguiu entender que eu ainda estava aprendendo”, afirmou a agente de segurança, que lembra da experiência com orgulho.

    No final do poema de Drummond, os versos parecem brincar, num trocadilho, com os aprendizes de Líbras. A “palavra”, desejada pelo poeta, aquela que não estaria nos dicionários, “resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol, dentro da qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a”.

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